quarta-feira, 22 de abril de 2015

Preservativos à base de poliuretano : uma alternativa ao látex

Alergia ao látex não é desculpa!



De acordo com o médico alergista e presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia de Mato Grosso, Celso Taques, ainda que rara, a alergia ao látex da camisinha não é uma descoberta recente. "A reação alérgica ao látex foi observada com a explosão do vírus da AIDS ao redor do mundo. Percebeu-se que, luvas, cateteres, entre outros artigos usados na medicina desencadeavam uma hipersensibilidade nas pessoas".

Segundo o alergista, o desconhecimento da população e de alguns médicos de que objetos a base de látex podem causar sensibilidade faz com que muitas pessoas não sigam o tratamento adequado ou mesmo não descubram que são alérgicas. "As pessoas se queixam com os médicos de dores, vermelhidão e coceira, e pensam se tratar de outras doenças ou DSTs, mas não imaginam que podem ser alérgicas!", explica.

Mas por que algumas pessoas têm alergia ao látex? Taques diz que existe uma proteína contida na seringueira que é transferida ao látex e, posteriormente, à borracha do preservativo. E pessoas que possuem predisposição genética a ter alergia ao látex ou a outras substâncias possuem maior probabilidade de desenvolver uma sensibilidade exagerada durante o uso da camisinha.




E qual a solução?



Não usar o preservativo por possuir alergia não é uma opção viável. No entanto, ter que se submeter a todo o desconforto e sofrimento que a alergia provoca também não. Pensando nisso, foram desenvolvidos preservativos utilizando outros materiais. Entre eles, o mais popular é o poliuretano (PU).

Além de não desencadearem reações alérgicas, os preservativos de poliuretano possuem outras vantagens em relação aos de látex.  Eles têm uma vida mais longa após serem colocados para a venda. Também podem ser usados com lubrificantes à base de óleos (que danificariam os preservativos de látex). Outra característica é que ele é duas vezes mais forte que o látex, de modo que pode ser muito mais fino, transparente e levemente maior.
 
Uma fábrica em Cambridge, na Inglaterra, lançou um preservativo feito de PU, chamado de Avanti, que logo se tornou um sucesso. Os testes mostraram que a maioria dos usuários (80%) prefere esse tipo de preservativo, principalmente devido ao aumento da sensibilidade.

Mas nem tudo são flores...



Embora existam diversas vantagens sobre o látex, o poliuretano também apresenta certos problemas. Por ser menos elástico, o PU apresenta cerca de duas vezes mais chances de romper ou sair do pênis durante a relação sexual quando comparadas às de látex. Entretanto, as chances de falha quando utilizadas corretamente são suficientemente baixas para serem consideradas seguras.

Os preservativos de PU também costumam a ser bem mais caros que os de látex, tendo seu preço médio variando em torno de R$ 2,20 a R$ 7,53 cada unidade.


Mas o que é o poliuretano?



Poliuretano (denominado pela sigla PU) é um polímero que compreende uma cadeia de unidades orgânicas unidas por ligações de uretânicas, ou de carbamato. 

A criação dos poliuretanos é atribuída ao químico industrial alemão Otto Bayer (1902–1982), que descobriu a reação de poliadição de isocianatos e polióis. O produto foi inicialmente desenvolvido como um substituto da borracha, no início da Segunda Guerra Mundial.
A polimerização dos uretanos ocorre quando se reage uma substância – com dois ou mais isocianatos – com um álcool polifuncional, ou seja, um poliol. As substâncias mais comuns utilizadas na síntese do PU são o diisocianato de parafenileno e o etilenoglicol, como visto na figura abaixo:



A ligação uretânica (vista em destaque abaixo) é muito forte, e é o que dá resistência a esse polímero.



São usados ainda catalisadores apropriados e surfactantes são utilizados com o objetivo de controlar a velocidade da reação de polimerização e o tamanho das células.


Outras aplicações do poliuretano



Esse composto tão versátil é usado na produção de vernizes, colas, pneus, colchões, calçados, além da produção de preservativos, foco nessa postagem.



E por enquanto é só. Até semana que vem, com mais uma postagem!


REFERÊNCIAS

Cangemi, José Marcelo; Santos, Antônia Marli dos; Claro Neto, Salvador. Poliuretano: De Travesseiros a Preservativos, um Polímero Versátil. Revista Química Nova na Escola. Vol. 31. Nº 3. Agosto de 2009. Sociedade Brasileira de Química. Disponível em: < http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc31_3/02-QS-3608.pdf>. Acessado em 22/04/2015.

Festin, M. R. Non-latex versus latex male condoms for contraception (last revised: 1 April 2013). The WHO Reproductive Health Library; Geneva: World Health Organization. Disponível em < http://apps.who.int/rhl/fertility/contraception/cd003550_festinm_com/en/>. Acessado em 22/04/2015.

Gallo, M. F.; Grimes, D.A.; Lopez, L.M.; Schulz, K. F. Non-latex versus latex male condoms for contraception. Cochrane Database Syst Rev. 2006 Jan 25;(1):CD003550.  Disponível em <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16437459>. Acessado em 22/04/2015.

Explicatorium. Disponível em <http://www.explicatorium.com/quimica/Polimero_Poliuretano.php> Acessado em 22/04/2015

Gazeta Digital. Disponível em <http://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/13/materia/179129> Acessado em 22/04/2015

Alunos Online. Química. Disponível em<http://www.alunosonline.com.br/quimica/preservativos-feitos-poliuretano.html> Acessado em 22/04/2015

Google Imagens




12 comentários:

  1. Muito bom saber que há outras alternativas para esses 5% da população que é alérgica ao látex. A alergia ao látex não é exclusiva aos preservativos, ocorrendo também no contato com balões e com profissionais da saúde no uso de luvas desse tipo de borracha. Os sintomas de alergia ao látex podem ser variados e incluem reações imunológicas, como dermatite de contato, urticária, asma, sibilância, rinoconjuntivite, meningite eosinofílica e anafilaxia, além de reações não imunológicas, como dermatites irritativas nas áreas de contato. A maioria dos indivíduos sensibilizados ao látex são atópicos, com sensibilização a ácaros, pólens e pelos de animais. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e imunopatologia, em 1989 o primeiro caso de anafilaxia foi relatado ao uso de preservativo. Apesar dos avanços nos estudos para o desenvolvimento de imunoterapia específica ao látex, mais segura e menos reatogênica, com extratos fracionados, isso ainda não é uma realidade prática, pois as reações à imunoterapia ainda são frequentes e a não exposição ainda é o principal tratamento para pacientes alérgicos ao látex. O gerenciamento adequado dos pacientes com alergia ao látex envolve programas educativos a respeito de como evitar a exposição ao látex e planos de emergência no caso de reações ocorrerem, não minimizando o potencial das reações alérgicas.

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  2. Tema muito interessante! Ainda mais porque a alergia ao látex causa outros problemas: nas mulheres, por exemplo, o látex das camisinhas pode provocar uma reação alérgica na vagina e desequilibrar o seu pH, causando corrimento vaginal e levando muitas aos consultórios achando que foi vítima de DST. Lembrando que por ter um órgão interno e com maior quantidade de mucosa, a vagina costuma ser mais atingida que o pênis dos garotos. Então, outra dica é usar a camisinha feminina! Por padrão, as camisinhas femininas são feitas em poliuretano ou borracha nitrílica, ambos materiais hipoalergênicos, facilitando a vida de quem tem alergia, embora seja meio cara também (entre 5 e 10 reais a unidade).
    Ah, mas é bom lembrar que nem toda alergia é ao látex! Pode ser ao aromatizante, corante ou até mesmo ao lubrificante da camisinha!
    Aguardando a próxima postagem (:

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  3. GRUPO L
    Muito pertinente a abordagem dessa temática pelo blog. Esse problema de alergia ao látex afeta cerca de 5% da população brasileira, o que parece pouco, mas que na prática corresponde a um número de quase 10 milhões de pessoas. Essa alergia ao látex afeta, sobretudo usuários de produtos concentrados de látex na produção como adesivos, luvas, balões, preservativos, brinquedos, elásticos, equipamentos esportivos, vestuários e utensílios médicos e dentários.
    O látex é um líquido leitoso da árvore Hevea Brasiliensis capaz de causar reações de hipersensibilidade do tipo 1 mediada por IgE e do tipo 4. Através de métodos imunoquímicos e eletroforéticos estudaram-se duas preparações diferentes de látex uma com altas concentrações de amônia e outra sem amônia. A amônia é acrescentada na manufatura do látex para aumentar sua elasticidade. Light e Dennis, 1989, identificaram e caracterizaram a sequência de aminoácidos do fator alongamento do látex, composto por 137 aminoácidos que seria o principal alérgeno. Assim, quando esse peptídeo entra em contato com a pessoa alérgica através de via cutânea, percutânea, mucosa e parenteral desencadeia a reação de hipersensibilidade.
    Esse fato se torna bem preocupante quando se relaciona o caso ao uso de preservativos que apresentam látex em sua composição. Isso porque o uso da camisinha é um dos métodos mais eficazes na prevenção a DST’s (especialmente a AIDS) e também as de controle de natalidade e planejamento familiar, de forma que é muito importante que a camisinha seja algo acessível a toda a população. Esse acesso universal esbarra no problema da alergia ao látex, mas como foi bem esclarecido pela postagem do blog existem camisinhas antialérgicas, que são feitas de material sintético (em geral poliisopreno ou poliuretano) que servem de alternativa para os alérgicos ao látex e a desculpa para não usar preservativo deixa de ser justificada.
    Valer ressaltar ainda que se você usou uma camisinha e sentiu um desconforto/reações desagradáveis depois do ato, não necessariamente você tem alergia a látex. Você pode ter alergia ou sensibilidade a corantes, aromatizantes ou ao óleo usado como lubrificante. De qualquer forma, se você teve alguma reação e quer ter certeza se você é alérgico (e a que você é alérgico) consulte um médico alergista. =)
    REFERÊNCIA:
    http://www.hse.rj.saude.gov.br/profissional/revista/33/latex.asp

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  4. Grupo J
    Postagem de primeira qualidade! O preservativo é um dos métodos mais utilizados para prevenção das DST's e de uma gravidez não desejada. A distribuição desses preservativos pelo Governo é constante; no entanto, os preservativos mais utilizados e distribuidos pelo Governo são os que têm em sua composição o latex. Entretanto, uma parte da população tem alergia a esse componente, podendo ter sinais/sintomas de leves a graves manifestando essa alergia; essa não poderia ficar desassistida enquanto a isso, foi então que desenvolveram preservativos a base de poliuretano e outros componentes. O preservativo feito com poliuretano é mais fino e mais leve. E por que esse polímero consegue ser tão leve? Para entender é preciso saber como os químicos preparam esse material. O polímero é um produto da reação de moléculas que tem um grupo álcool com outras que tem grupos isocianato. À medida que a molécula se mistura, uma forte ligação química se forma, e a adição de líquido volátil faz com que bolhas de gás se formem no plástico. Daí o porquê da constituição do poliuretano ser 95% de gás, o que o torna altamente leve. Então, tudo a bioquimica nos mostra sua real importância na sociedade.
    Parabéns pela postagem!

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  5. Além dos preservativos de poliuretano satisfazerem os alérgicos ao látex, a estatística também está ao lado deles. Em testes controlados, a probabilidade de gravidez após seis meses de uso do preservativo de poliuretano variou de 4,8% a 10,8% e com os de látex oscilou entre 5,4% e 6,4%. A ocorrência de irritação genital foi menor nos que usaram os de poliuretano. O total de falhas (deslizamento e ruptura) foi de 4% a 8,5% para o poliuretano e de 1,3% a 3,2% para o látex.7,8,9 Trabalhos retrospectivos com preservativos de látex mostraram 0,2 a 7,3% de rupturas em sexo vaginal e de 3 a 9% em sexo anal. Todavia, estudos prospectivos relataram 0 a 5,9% de ruptura e 0,1 a 6,6% de deslizamento em pessoas usando adequadamente, após orientação.
    DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS. SIDNEY ROBERTO NADAL - TSBCP NADAL, SR.Os Preservativos na Prevenção das Doenças Sexualmente Transmitidas. Rev bras Coloproct, 2003;23(3):225- 227

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  6. Como sempre trazendo informações interessantes sobre o tema. A camisinha de PU nos traz também a discussão de como a abordagem numa escala epidemiológica ocasionalmente pode ser menos intuitiva que parece. A caminha de latex oferece mais segurança que a de PU, afinal ela rompe uma menor quantidade de vezes, mas ambas rompem em baixíssima quantidade, portanto nesse caso, talvez seja mais interessante se propagar a utilização de uma camisinha que seja um pouco menos segura individualmente como a de PU mas que se tenha uma maior taxa de uso de fato.
    Por exemplo, se a latex tem uma taxa de rompimento de 2% mas apenas 50% das pessoas a utilizam, isso que dizer que em 1000 pessoas, 510 estão vulneráveis.
    Mas se nas de PU a taxa de rompimentos for 4%, mas o uso for de 80% (devido a ser menos desconfortável e transmitir calor), apenas 232 ficaram vulneráveis.
    Por isso é importante se pesquisar mais e buscar descobrir a taxa de uso real ambos os preservativos encontram na população.
    Novamente, excelente post.

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  7. GRUPO A:

    Fala galera, postagem mais uma vez muito esclarecedora uma vez que uma parcela da população (estimada em 5% – o que, só no Brasil, representaria cerca de 10 milhões de pessoas) é alérgica ao látex e tem problemas (que podem até mesmo ser sérios) ao usar preservativos desse tipo. Essas pessoas não podem e não devem ficar “abandonados à própria sorte’’, e de fato não estão. Apesar de não tão divulgadas, existem camisinhas antialérgicas, que são feitas de material sintético (em geral poliisopreno ou poliuretano), como foi abordado pelo grupo.
    Por exemplo, no caso da marca Preserv Extra Premium, a página do fabricante informa que esse é (supostamente) o preservativo mais fino do Brasil (o que, ao menos em tese, melhora a sensibilidade). A descrição oficial do produto diz que ele é “feito em poliuretano, vem com lubrificante e não causa alergia”. Numa loja virtual confiável a embalagem com quatro unidades custava R$ 23,99 (praticamente R$ 6,00 a unidade). A mesma loja loja vendia uma embalagem com duas por R$ 12,04 (pouco mais de R$ 6,00 a unidade). Ou seja, é uma alternativa com um maior custo, porém eficiente.
    Então é isso pessoal, aguardamos por mais postagens, até a próxima!

    Fontes: http://aglomeradonews.com.br/aglomerado/aglomerado-saude-camisinha-antialergica-sem-latex/

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  8. O site ainda está ativo para tirar duvidas?

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  9. A camisinha de poliuretano pode ser usada com oleo de coco? Produtos alimenticios não sao ideais para lubrificação. Mas o óleo de coco extravirgem, como ja se sabe, é mais que um produto alimentício, é um produto de uso topico e atópico natural, e que é extremamente eficiente na lubrificação além de favorecer a saude intima da mulher. Mas minha dúvida é... já que o preservativo de poliuretano pode ser usado com lubrificantes a base de oleo, ele pode ser usado com um oleo vegetal puro? Lembrando que o óleo de coco sera sempre melhor lubrificante em questão de saúde do que produtos industrializados. Mas tenho essa dúvida da caminhsinha...

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  10. - Tive seguidas reações alérgicas com a Preserve Extra Sensitivity (54mm), porque andei transando muito aqui no Rio de Janeiro (em privês no centro da cidade). Geralmente eu usava água boricada 3 vezes ao dia (e parava de transar por uns dez/doze dias), então as bolinhas no pênis sumiam. Um dia fui ao urologista, ele olhou e me recomendou ir a um dermatologista. Fui. O dermato disse que era uma dermatite de contato alérgica. Disse que era certamente da camisinha - e só então despertei para esse fato. Disse que eu não tinha mesmo que fazer nada, apenas usar a água boricada e esquecer as mulheres por um tempo. Então sempre faço isso, mas agora enchi o saco e pesquisando nessa maravilhosa internet fiquei sabendo que posso evitar tal problema com as camisinhas de poliuretano. Gostei da postagem da Bioquimica Parnaiba (9 maio 2015) e, de forma geral, todas as informações aqui publicadas me foram bem úteis. Obrigado a todos. Abraços, Miletox.

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