segunda-feira, 13 de abril de 2015

Do látex aos preservativos : prevenindo DSTs por barreiras mecânicas

VISTA-SE! - PRESERVATIVO MASCULINO


Considerado hoje o mais seguro método para prevenção de DSTs, o preservativo masculino (popularmente conhecido como camisinha) é também um método contraceptivo. Os preservativos são, inclusive, os únicos métodos a possuírem as duas ações. É um mecanismo de barreira - insto é, que impedem fisicamente a passagem dos espermatozoides. Por esse mesmo princípio, a camisinha impede também a passagem dos agentes patógenos entre as mucosas durante a relação sexual.

A camisinha pode ser fabricada de diversos materiais, sendo o principal o látex. Entretanto, pode ser feita também de poliuretano e, no caso da feminina, de nitrilo. O látex é a substância mais comum, e além de ser mais barato, apresenta uma série de características que o tornam interessante para a fabricação dos preservativos. Os demais materiais serão abordados em postagens futuras.

O látex, de onde se extrai a borracha natural, é um polímero emulsificado. Tal composto é, principalmente, extraído de  árvores do gênero Hevea brasiliensis (seringueira). É o exsudato citoplasmático de células laticíferas, ou produtoras de látex, obtido pela lesão do tecido vegetal. A unidade funcional do látex é o polímero de cis -1,4- poliisopreno, esquematizado na figura abaixo:



O látex é praticamente neutro, com pH 7,0 a 7,2, mas quando exposto ao ar por um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e sofre coagulação espontânea, formando o polímero que é a borracha , representada por (C5H8)n , onde n é da ordem de 10 000 e apresenta massa molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol.

A borracha natural apresenta grande elasticidade, flexibilidade e resiliência. Essas características oferecem aos preservativos a possibilidade da fabricação de um único tamanho para uma variada gama de usuários e a grande resistência à tração, que dificulta os rompimentos Entretanto, somente com o processo denominado vulcanização, que aprimora essas características, pode-se a confeccionar as atuais camisinhas, ultra-finas e ultra-elásticas.

Em 1839 Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização da borracha. O processo consiste na adição de enxofre à borracha, e, posteriormente, seu aquecimento. Assim, ocorrerá quebra das ligações duplas e a formação de pontes de enxofre em seu lugar. Essas pontes formam as chamadas ligações cruzadas. As moléculas da borracha formam uma espécie de rede tridimensional, que reduz a mobilidade e o movimento. O artefato, então, adquire uma forma fixa, não mais moldável, mas ainda elástico e flexível. O material também não mais amolece quando exposta ao calor, e nem congela no frio( ou seja, a borracha, passa de termoplástica para termorrígida).




Para transformar o látex vulcanizado nas camisinhas que conhecemos, uma série de processos envolvem sua fabricação, além de vários testes serem realizados. Esse processo é regulado pela ISO/DIS 29943-1.


FABRICAÇÃO DA CAMISINHA

Após o processo de vulcanização que é o mais importante para obter as camisinhas ultra elásticas e resistentes que conhecemos hoje em dia, a borracha vulcanizada agora ganhará forma passando pelas seguintes etapas até estar pronta para o uso:

1 - Moldes de vidro são imersos em um tanque cheio de látex vulcanizado para dar a forma as camisinhas. Depois disso uma sequencia alternada de estufa e imersão ajudam a reforçar a camada de látex.





2 - Em seguida a camisinha em estado bruto passa por escovas rotativas, formando assim a bainha do preservativo. Logo depois, outra estufa é utilizada para eliminar mais água do composto a fim de se obter a borracha consistente.

3 - Nessa etapa ocorre o processo de lixiviação do látex que busca remover compostos alérgenos do preservativo. Para isso as camisinhas são imersas em tanques com produtos químicos. Tanto substâncias originais do látex quanto produtos adicionados na vulcanização são descartados.

4 - Nesse passo, um jato de água retira os preservativos dos moldes e os lança em uma esteira. O molde será reutilizado após uma lavagem e a camisinha, para eliminar sua consistência grudante, é banhada com talco, sílica e amido de milho. Depois disso, é secada e enviada para os testes de qualidade.

5 - Um destes testes, é a aplicação de uma corrente elétrica para conferir a presença de furos nos preservativos, se houver passagem de carga elétrica, existem defeitos.



6 -Após o teste elétrico, os preservativos são enviados a uma esteira já enrolados, recebem lubrificante. Algumas amostras são enviadas para o teste de insuflação por ar e enchimento por líquido para garantir sua resistência e elasticidade.



QUESTÕES POLÊMICAS

O Vaticano argumenta que a camisinha não protegeria contra o vírus do HIV, pois, supostamente, até mesmo os espermatozoides passariam pela "rede" formada pelo látex. Além disso, ano após ano, um rumor sobre um suposto estudo científico que dizia que o preservativo masculino apresentava diversos poros - que permitiam a passagem dos vírus do HIV - ressurge. Entretanto, estes eram desdobramentos de uma carta enviada ao Washington Times, em 1992. Feito por Mike Roland, então editor da Rubber Chemistry and Technology, o estudo que embasou a carta foi feito, na verdade, com luvas de borracha. 

Estudos demonstraram a efetividade da barreira de látex das camisinhas através  de microscopia eletrônica de varredura, onde evidenciou-se que os mesmos não apresentavam porosidade, que  mesmo vírus de diversos tamanhos não passam através da membrana de preservativos intactos, mesmo quando o artefato é alongado e estressado. A barreira é suficiente para bloquear a passagem , por exemplo, do vírus do HIV (125 nm) e mesmo do vírus da hepatite B (40nm) - um espermatozóde, para comparação, possui cerca de 3000 nm. Assim, quando os preservativos masculinos são usados de forma consistente e correta, a redução do risco da infecção pelo HIV é da ordem de 80 a 95%.

E O PRESERVATIVO FEMININO?

O preservativo feminino também serve para se prevenir contra a aids, hepatites virais e outras doenças sexualmente transmissíveis. Assim como a opção masculina, também evita uma gravidez não desejada. Por ficar dentro do canal vaginal, a camisinha feminina não pode ser usada ao mesmo tempo em que a masculina. É feita de poliuretano, um material mais fino que o látex da camisinha que envolve o pênis. É, também, mais lubrificada.


POR QUE USAR O PRESERVATIVO?

A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a aids, alguns tipos de hepatites e a sífilis, por exemplo. Além disso, evita uma gravidez não planejada. Por isso, use camisinha sempre!!!!

Mas o preservativo não deve ser uma opção somente para quem não se infectou com o HIV. Além de evitar a transmissão de outras doenças, que podem prejudicar ainda mais o sistema imunológico, previne contra a reinfecção pelo vírus causador da aids, o que pode agravar ainda mais a saúde da pessoa.

FONTES: 

Bó, Maria Cristina. Degradação de preservativos masculinos de borracha natural – análise de dados modelagem do processo e previsão do tempo de validade. 2007. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Polímeros). Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano – IMA, 2007.

BRASIL, Ministério da Saúde de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA - IV REGIÃO. Borracha - química e tecnologia [Sítio eletrônico]. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/quimicaviva_borrachas>. Acessado em 12/04/2015.

ONG, Eng Long, . Condom testing contributes to disease prevention. ISO Focus. June 2009. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/isofocus_article_on_condoms.pdf>. Acessado em 12/04/2015.

PROJETO RISCO BIOLÓGICO. DIsponível em: ,http://www.riscobiologico.org/pagina_basica.asp?id_pagina=31>. Acessado em 12/04/2015.

MUNDO ESTRANHO Canais. Como é feita a camisinha? . Disponível em : <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-e-feita-a-camisinha> . Acessado em 13/04/2015.

UOL Notícias. Vaticano diz que camisinha não protege contra Aids. Disponível em : <http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/10/09/ult27u38684.jhtm>. Acessado em 12/04/2015.

BRASIL, Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Portal sobre aids, doenças sexualmente transmissíveis e hepatites virais. Disponível em: <http://www.aids.gov.br>

Google Imagens



11 comentários:

  1. Achei muito boa a abordagem do látex da camisinha, junto as suas polêmicas e a sua fabricação! Mas vale ressaltar, que, com a mesma efetividade de barreira física, existem camisinhas sem látex e antialérgicas, que são mais finas, aumentando a sensibilidade em relação aos modelos tradicionais. Logo, os 5% de homens e mulheres alérgicos à látex não ficam sem a proteção durante o sexo. Essa camisinha é feita do polímero poliuretano, que tem uma grande variedade de densidade e dureza, possuindo várias aplicações no cotidiano.
    Enfim, aguardo novas postagens e pretendo referenciar o blog de vocês no meu :)

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    1. Abordaremos na próxima postagem. =]

      Tem também as femininas, que serão ainda assunto futuro mais detalhado. Obrigado pelo feedback!

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  2. GRUPO F

    Postagem muito esclarecedora e informativa, vocês conseguiram explicar muito bem a fabricação e ainda incluíram as polêmicas com o Vaticano conseguindo assim que a postagem conseguisse ser bem abrangente. Uma coisa que não entendi é o porquê das camisinhas femininas serem feitas de material diferente das masculina, o látex não daria o mesmo tipo de proteção às mulheres? De toda forma aprendi bastante e ainda me fizeram levantar boas perguntas, vlw flws.

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  3. Algums são feitas também de látex. Mas o poliuretano apresentam vantagens que vocês verão semana que vem, ma próxima postagem! =)

    Obrigado pelo comentário.

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  4. Muito interessante a postagem! As camisinhas começaram a ser distribuído pelo Ministério da Saúde em 1994 e estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde, centros de testagem e aconselhamento, serviços especializados e bancos de preservativos. Além disso, é distribuído em ações de prevenção realizadas por organizações não-governamentais parceiras e em escolas que trabalham com o programa Saúde e Prevenção na Escola.
    O Brasil é referência mundial no tratamento e atenção a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Para reduzir a transmissão do HIV, das DSTs e das hepatites virais, um dos eixos prioritários de trabalho é a prevenção. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids, e Hepatites Virais, realiza várias ações, como a organização do Congresso Brasileiro de Prevenção das DST/AIDS (realizado a cada dois anos), aquisição e distribuição de preservativos masculinos e femininos, campanhas nacionais no Dia Mundial de Luta Contra a AIDS e no Carnaval, ações educativas em eventos e datas específicas.
    Até a próxima semana!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Grupo L:
      Ótima postagem, pessoal! foi muito esclarecedora sobre a forma como as camisinhas agem e porque elas são tão efetivas tanto na prevenção contra DST quanto contra uma gravidez indesejada. É importante conhecer o material do qual esses preservativos são feitos, bem como a forma como eles são feitos, pois isso atesta a sua funcionalidade, questionada por algumas pessoas. Outro ponto essencial é o discutido pelo grupo "Doping Universitário" sobre a distribuição desses preservativos. O esclarecimento sobre a forma correta de se usar os preservativos, bem como sobre as possíveis DST que podem ser adquiridas sem os devidos cuidados nas relações sexuais são fundamentais para a prevenção das mesma! :)

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  6. Grupo k

    Ótimo post! Eu, particularmente, não sabia que era o único meio duplo de impedir a contaminação e método contraceptivo. Isso é importante, pois é preciso ter divulgação de que o uso da camisinha se dá mais para evitar a contaminação do que método contraceptivo. Há anos se usam pílulas anticoncepcionais para mulheres, mas vi recentemente que esse método vai ser introduzido no mundo masculino. Parece que em 2017 começa a comercialização desse produto e é importante conscientizar a continua utilização do preservativo para que impeçam a contaminação por patógenos. A maior utilização da camisinha feminina também se faz necessária para maior proteção. Muito interessante a forma como o preservativo é fabricado. Uma boa ideia para postagem é a abordagem de métodos anticoncepcionais para a conscientização de que eles não previnem contra dst's e sim que apenas impedem a gestação indesejada. Muitas dst's também são negligenciadas e sua abordagem também é fundamental.

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  7. Grupo J
    Adorei a Postagem! É importante sim saber os componentes da camisinha até porque no ato sexual, muitas vezes, é utilizado outras substancias que podem reagir com as substancias presentes na camisinha, podendo danifica-la. Um bom exemplo é a Vaselina que reage com o Látex e causa rachaduras no preservativo. Isso faz com que a finalidade dupla da camisinha não seja tão eficaz e confiável. Com isso, comprova-se a importância dessa abordagem de composições e reações! Parabéns pelo post!

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  8. Muito interessante o material trazido. Importante trazer que o boom da camisinha também se estabelece junto com o surto de AIDS, foi primeiro nas publicações voltadas ao público gay que se começou a disseminar a ideia de utilizar camisinha. Coisa que quase ninguém fazia até os anos 80, pois seu uso basicamente era visto como contraceptivo e pra isso teria a pílula.
    Como outros comentarista falaram realmente ainda existe resistência no uso desse método, mesmo todos conhecendo a importância. Existiram no meio dos 80 pra início dos 90 muitos estudos sobre que tipo de camisinha adotar, interessante que a de latex acabou passando há ser a recomendada pelo centro de controle de doenças americanos ainda sem se ter total certeza da sua segurança.
    Uma grande questão é sobre os diferentes tipos de camisinhas, as de poliuretano e as camisinhas organicas, que tradicionalmente forma usadas, alguns defendem que elas poderiam até ser mais eficientes epidemiologicamente, pois um dos grandes problemas do latex é não conduzir muito bem o calor e sensações, o que gera o uso ser bem inferior ao necessário.

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  9. GRUPO A:

    Publicação muito esclarecedora e importante, pois aborda os componentes do preservativo masculino, e isso é importante para a manutenção da integridade do preservativo durante o ato sexual. Basta lembrarmos, por exemplo que apenas lubrificantes de base aquosa (gel lubrificante) devem ser usados, pois os lubrificantes oleosos (vaselina ou óleos alimentares) danificam o látex, ocasionando a ruptura da camisinha. Além disso, é necessário armazená-la afastada do calor (como bolso de calça, porta-luvas ou amassada em bolsas) bem como observar a integridade da embalagem, e o prazo de validade.
    Vale lembrar que o preservativo masculino, assim como o feminino, é distribuído gratuitamente em toda a rede pública de saúde e em algumas escolas parceiras do projeto Saúde e Prevenção nas Escolas. Caso se tenha qualquer dúvida sobre, o Disque Saúde (136) possui uma central de atendimentos.
    É isso aí galera, o uso de preservativo é uma questão de saúde pública. Aguardamos ansiosamente mais publicações sobre a bioquímica no contexto das prevenções.

    Referências: http://www.aids.gov.br/pagina/camisinha-masculina


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